Na última semana, um ataque surpresa do Hamas, facção extremista palestina, contra Israel reacendeu violentamente uma guerra que já dura anos. O conflito entre Israel e Palestina é histórico, já causou milhares de mortes inocentes e não prevê fim em um curto prazo.
Para além das vidas perdidas, o conflito traz graves consequências também para o mercado global. Como a globalização interliga a economia de quase todos os países, um embate dessa proporção causa fortes impactos na forma de funcionamento do comércio internacional.
Neste artigo, você vai entender melhor como a economia global é diretamente influenciada pelos conflitos no Oriente Médio. Além disso, também explicaremos o funcionamento da geopolítica mundial e o porquê de uma guerra isolada, em outro hemisfério, afetar muitas questões econômicas no Brasil.
Israel e Palestina: quais os impactos do conflito na economia?
Primeiros impactos
Primeiramente, precisamos lembrar que o Oriente Médio é uma das maiores regiões exportadoras de petróleo. Logo, qualquer conflito que ocorra na localidade influencia diretamente no fluxo comercial não só do combustível fóssil como de seus derivados – tais como plástico, gasolina e asfalto.
Logo, praticamente todos os países do mundo são afetados por essa interferência, principalmente Estados Unidos e Reino Unido, que mantêm relações comerciais diretas com Israel.
Os dois países citados, inclusive, ainda podem ter sua situação agravada caso decidam se envolver diretamente no conflito.
A avaliação da Capital Economics
Diante do conflito entre Israel e Palestina, a avaliação da Capital Economics trouxe três considerações principais no seu relatório.
O primeiro apontamento é que o mercado internacional, após anos de choques geopolíticos, tem se tornado mais resistente a instabilidades, e seus efeitos negativos são limitados. No curto período, é bem possível que o conflito no Oriente Médio tenha um impacto menor do que a Guerra na Ucrânia, por exemplo.
Apesar do cenário mudar na medida em que a situação se desdobra, a previsão é que o mercado internacional se adapte a situação de maneira muito mais rápida.
No segundo apontamento, a Capital Economics indica que o maior impacto será nos commodities do petróleo, o que afeta o preço da energia. Se o Irã, aliado do Hamas, se envolver na guerra, a situação pode se tornar ainda mais perigosa, com a valorização do combustível disparando bem acima dos US$100 o barril.
Por outro lado, segundo a Capital, nenhuma outra grande consequência é prevista no atual cenário. Isso pode mudar futuramente, mas segundo especialistas o mercado de petróleo é quem sofrerá mais.
O terceiro ponto levantado pelo relatório é que a gravidade dos impactos econômicos irá depender de como o banco central de cada país irá agir na situação.
Em países onde a inflação é alta, a tendência é que o conflito financeiro tenha um impacto maior, contribuindo para o agravamento da situação. Mas se a situação econômica estiver estável, não haverá motivos para se preocupar, pois o aumento nos preços das matérias primas não será tão incômodo.
O impacto no Brasil
Por ser um gigante comercial, o Brasil tem uma grande influência no mercado internacional e, certamente, será impactado. Como o conflito entre Israel e Palestina movimenta bastante o mercado de petróleo, é compreensível que a Petrobrás sofra algumas consequências.
Em entrevista ao Valor Investe, Lívio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia, comentou possíveis cenários. Na visão dele, ainda é cedo para tirarmos conclusões, mas a direção da Petrobrás precisa acompanhar a situação de perto para evitar ser pega de surpresa, ou sem nenhum plano de ação para a extensão do conflito.
Lívio continua sua análise dizendo que a situação pode se agravar se novos agentes – como países parceiros de ambos os lados – se envolverem na disputa. Isso poderia causar o prolongamento do conflito, criando efeitos econômicos no longo prazo. Nesse aspecto, o pesquisador acredita que o piso do barril de petróleo seria de US$110, podendo ficar ainda mais alto.
Tal decisão impactaria diretamente a Petrobrás, que teria que reajustar seus preços para permanecer competitiva no mercado, ao passo que lida com uma economia ainda em processo de estabilização.
O que podemos esperar para o futuro?
Como todo grande acontecimento mundial, o conflito entre Israel e Palestina movimenta muitos fatores econômicos. Por ser um evento ainda recente, saber o que enfrentaremos pela frente é quase imprevisível. Contudo, é possível fazer previsões.
Além da questão do petróleo – colocada anteriormente – há também uma possível aversão dos investidores ao risco. Quanto mais instável se torna a situação geopolítica, menores são as chances das nações emergentes conseguirem conter a fuga de capitais e ativos para um fundo mais seguro.
Em cenários de conflitos internacionais, os países com economia estável sempre saem mais fortes. Afinal, apresentam condições mais atrativas de proteção de crédito.
Por último, há uma previsão da alteração no câmbio. O dólar tende a se valorizar ainda mais, com essa migração dos principais investimentos para países desenvolvidos – incluindo Estados Unidos. Se o conflito se prolongar durante muito tempo, é possível que a moeda norte-americana se fortaleça ainda mais, impactando diretamente todas as relações comerciais entre países.
Mas afinal, por que a economia global é interligada?
Devido a essa globalização, os resultados de um conflito impactam diretamente diversos lugares ao redor do mundo. Mas qual é a razão dessa conexão?
Conforme a globalização aumentou e o comércio internacional se desenvolveu, países viraram grandes aliados comerciais, criando uma ligação de interdependência. Ou seja, uma nação cuja produção de determinado produto é muito alta se aliou a outra que tem uma oferta diferente e estabeleceu um acordo: ambos só comprariam um do outro.
Porém, como trata-se de um sistema muito complexo de comercialização, essas relações começaram a se cruzar. Desta forma, se formou uma rede de conexões muito extensa, onde uma peça fora do lugar é capaz de desestabilizar toda a estrutura.
Quando se trata de matérias primas, como é o caso do petróleo, a situação fica ainda mais frágil. Muitos produtos, como os que possuem base em plástico, sequer podem ser produzidos sem ele. E mesmo que fosse possível produzi-los, não haveria maneira de transportá-los sem combustível.
Por este motivo, países produtores de petróleo são peças fundamentais da imensa estrutura do comércio internacional. Sem eles, muitas empresas, incluindo as de transporte, não conseguem atuar.
Quando uma região forte na exportação de petróleo está em meio a conflitos, a oferta do combustível fóssil diminui drasticamente. Por um lado, isso fortalece países menores cujo forte também é a oferta de petróleo, por outro os parceiros comerciais diretos dos países impossibilitados de comercializar seu produto ficam à mercê de uma forte crise econômica, visto que tanto o fluxo de compra como o de vendas está prejudicado.
Por fim, percebemos que ter um grande fluxo comercial internacional interdependente é extremamente benéfico, por permitir que quase todas as nações tenham acesso ao maior número possível de produtos. Mas quando há uma instabilidade nesse circuito, o sofrimento também é generalizado e agravado em regiões menos privilegiadas.